terça-feira, 14 de junho de 2011

Vamos flexionar o "mais" também


Mais uma vez vou ser obrigado a discordar da maioria e afirmar que não achei as idéias do tal livro do MEC assim tão estapafúrdias. Nem li o livro, mas, pelo que li e ouvi, achei as idéias bem coerentes.


Antes de mais nada, bom frisar que é normal a reação observada, de rejeição às idéias contidas no livro. Geralmente somos contra o que é diferente do que estamos acostumados. Soa mal aos nossos ouvidos quando outra pessoa faz uso da língua de forma diversa à nossa.

Mas a forma como falamos também pode soar mal para outras pessoas, talvez mais cultas, talvez mais incultas, talvez apenas de outra região ou época.

 Confesso que pratico preconceito linguístico quando escuto algo, não digo nem errado, mas diferente, do que estou acostumado. Até mesmo uma acentuação diferente, ou um sotaque, já é suficiente para desencadear repugnante sentimento.

Especificamente quanto à polêmica do livro, me parece que o problema é com a concordância... nominal? numeral? Nem sei, mas vamos dizer que seja a flexão das palavras para concordar entre si em número, ou seja, a utilização do plural.

Vamos aos exemplos do livro:

Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados -> forma culta - terceira pessoa do plural (é isso mesmo)?
Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado -> forma alternativa.
O livro ilustrado mais interessante está emprestado -> frase no singular, por minha conta.

Então vejamos: para passar a frase do singular para o plural, foram flexionados: o - os, livro-livros, ilustrado - ilustrados, interessante - interessantes, está - estão, emprestado - emprestados.

Seis palavras, de sete ao todo. Precisava flexionar a frase inteira??? Apenas o "mais" escapou (ao contrário do seu antônimo, que costuma ser agressivamente flexionado, não por número, mas por gênero: coitado do menos, que vira "menas": menos homens, menas mulheres - essa é dose.

Mas voltando ao assunto, precisava flexionar a frase inteira??? Prá quê??? Essa tal "riqueza" do português, prá mim, tem outro nome. Na versão alternativa, apenas duas palavras foram flexionadas. No mínimo, forma mais simples, para não dizer prática, semelhante a forma adotada pelo idioma mais difundido no mundo. 

Vamos pedir ajuda ao translate para verificar como a coisa funciona no inglês:
"O livro ilustrado mais interessante está emprestado"
virou
"The most interesting illustrated book is borrowed".
"Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados"
virou
"The most interesting illustrated books are borrowed".

Ou se, flexionou-se apenas DUAS palavras - o verbo e o substantivo, que no caso atua como sujeito. Nada de flexionar artigo, adjetivo, advérbio

Seria como se disséssemos "O livros ilustrado mais interessante estão emprestado".

E nenhum inglês acha estranho ser desta forma, por sinal, muito mais simples que no português. Isso sem falar nas infinitas flexões verbais, flexões de gênero, bobagens que, no fundo, só servem para complicar a língua ou... proporcionar preconceito e discriminação.

domingo, 24 de abril de 2011

Proteção Divina

Nesse tempo de Semana Santa, as imagens de fervor religioso ganham mais espaço na mídia, e com ele meu espanto nas demonstrações de fé das pessoas.

No geral, a religião, a crença de deus, é uma forma de buscar amparo, proteção, ajuda para superar dificuldades. Ter em quem se fiar, independente das dificuldades.

É ter a quem agradecer ao se conquistar algo, como se as ações nossas ou de terceiros não fossem suficientes para alcançar o resultado.

Cada pessoa tem seu deus, e uma relação pessoal com ele, muitas vezes adicionando elementos incompatíveis com a própria essência da religião.

Muitas vezes, nossas orações têm objetivos excludentes ao de outras pessoas, ao passo que, quando pedimos ajuda a deus, queremos que ele prejudique outras pessoas em nosso favor.

O exemplo extremo de tal constatação é o agradecimento a deus pela vitória em uma partida de futebol, ou mesmo por fazer um simples gol.

“Graças a Deus conseguimos virar o  jogo...”; “Deus me abençoou com o gol...”, quantas vezes escutamos na mídia estas demonstrações de fé. Não seria tal ilação no mínimo egoísta?
Quem pensa dessa forma é realmente imbuído dos sentimentos pregados pela religião? Afinal, por que achar que um ser superior iria favorecer alguém, consequentemente prejudicando outros? Seria isso justo? Pois se a partida foi ganha, graças a deus, pode ser que o time perdedor até estivesse mais preparado, mas perdeu graças a deus que ajudou o outro.

Rezamos pedindo para passar no vestibular, para arranjar emprego. Será que alguém quem estudou mais, ou está mais preparado, seria prejudicado por deus, só porque não foi suficientemente adulado?

Passamos por cirurgias complicadíssimas, diversas pessoas envolvidas para anestesiar, estabilizar, cortar, costurar e agradecemos a deus. Será que sem a reza deus iria fazer alguém cometer um erro?
E todo o esforço da equipe médica foi em vão, já que tudo correu bem graças a deus? Não seria melhor se deus não tivesse permitido nem que a cirurgia fosse necessária?

O mesmo ocorre nas tragédias. “agradeço a deus por estar vivo” - por minha conta agora - “obrigado por ter desabado aquele morro em cima de mim, me quebrado todo, me deixado ficar no hospital durante meses sofrendo dores terríveis, matado todo o resto da minha família”.

Ou “Graças a deus a tragédia não foi maior”. Pô, porque graças a deus não houve tragédia?

Sempre atribuímos a Deus a parte boa do fato,  nem que a parte boa seja a situação não ser pior. Como que as pessoas conseguem concluir que Deus contribuiu para ajudar e desprezam a causa do fato? Quem causou a situação que deus teve que intervir? Ele próprio ou algum de rival seu? Ou aí entra o acaso? E deus não tem controle sobre o acaso, só consegue minorar o estrago depois que já está acontecendo, tipo os bombeiros?

Nem os fieis mais fervorosos têm essa proteção divina que vejo nos adesivos assim tão eficiente. É teto de igreja que desaba, é ônibus de romeiro que capota, credo!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Soprar ou não Soprar, eis a Questão

O art. 165 do CTB que trata da infração de dirigir sob influência de álcool, já teve 3 redações. Antes, o condutor somente poderia ser autuado se se submetesse ao teste do etilômetro. Se não aceitasse realizar este, ou mesmo outros testes, não poderia ser aplicada a multa, pois não havia a previsão de incidência em caso de recusa.

Ao contrário do alardeado por aí, sobre suposta violação ao direito de “não produzir prova contra si mesmo”, a aplicação da penalidade pela simples recusa em se submeter ao teste, ou mesmo a caracterização da infração, mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais de embriaguez, em nada afronta o princípio constitucional.

O ato de dirigir é uma permissão concedida pelo Estado, a qual, quem , caso queria, deve se submeter às condições estabelecidas, entre elas a de não conduzir veículos após ingerir bebida alcoólica.

Se assim fosse, seria normal o condutor de veículo se recusar a exibir a CNH, vencida, ao policial, pois estaria fazendo prova contra si mesmo.
Ou seja, no tocante à infração de transito, que tem natureza de irregularidade administrativa, o atual regramento, não obstante considerações sobre rigor excessivo e divergências de aplicação, bem resolveu a questão.

Mas a questão do crime também foi alterada, e nesse ponto, a situação ficou pior, para não dizer ridícula.

Antes, era crime “conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”.

Havia a discussão se o dano potencial seria o próprio ato de conduzir o veículo sob a influência de álcool ou se seria necessário algo a mais tal como excesso de velocidade, falta de controle do veículo, etc.

Bem ou mal, havia a possibilidade de se aplicar a lei. Agora, a lei define o crime como “conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de  álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas...”.

Ou seja, somente se tipifica o crime com a realização de algum exame que indique a concentração de álcool. Como tais exames necessitam da concordância do condutor, que pode recusá-los e aqui, com razão, tem direito a não produzir prova contra si mesmo, ninguém em sã consciência, por mais bêbado que esteja, aceita de submeter ao exame.

Já que não basta a simples recusa para configuração do crime, a decisão de tipificação fica totalmente ao alvitre do agente! Basta se recusar a realizar o teste do etilômetro para ser inocente, independente de qualquer outra prova que por ventura exista.

Seria a mesma coisa de se condicionar a concretização do crime de homicídio ao exame residuográfico no suspeito, o qual poderia, pelo princípio citado, se recusar a se submeter.

Não havendo o teste, não haveria o crime, mesmo com o corpo alvejado por projéteis.

Pode até ser que a intenção do tal legislador seja justamente dificultar a existência do crime, processos, etc, preferindo resolver tudo na seara administrativa, apenas com aportes financeiros.

Mas como explicar para a opinião pública porque algum chapadaço saiu livremente, só com uma multinha, ao ser flagrado dirigindo???

Chega a ser vergonhosa tal situação, ao ponto de entendimentos jurisprudenciais se esforçarem em criar entendimentos sobre a desnecessidade do exame específico.

Porém, no texto da lei, fica claro para qualquer um, que o óbvio é recusar-se a realizar o exame, caso seja flagrado conduzindo veículos após ter bebido, pois dos males, o menor, melhor tomar a multa por se recusar que além da multa, metrologicamente constatada, ainda ser preso. Depois, basta inventar uma desculpa do porquê “preferiu” não realizar o teste.

Vai aí algumas desculpas possíveis: “canudo eu costumo é aspirar, não soprar”; “minha religião não permite que eu encoste minha boca em orifícios antes do casamento”...  Invente a sua!

"Prefiro não Constatar"

Ao “preferir não fazer” o teste do etilômetro, o senador “preferiu” ser autuado pela infração de "dirigir sob a influência de álcool", mesmo que assim não estivesse, pois o CTB estabelece que se aplicam "as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos", entre eles o etilômetro. Preferiu ser multado por infração gravíssima, a receber sete pontos no prontuário e a responder processo administrativo que pode resultar em suspensão do direito de digirir por até doze meses, a dar uma simples soprada.

É difícil se compreender a lógica do senador em "preferir" não realizar o teste somente porque não poderia mesmo prosseguir dirigindo, já que sua CNH estava vencida. Afinal, o custo de sua preferência foi muito alto por uma simples sopradinha. Mesmo que não pudesse prosseguir dirigindo, bastava se submeter ao teste, que, ao se constatar que não dirigia após ingerir bebida alcoólica, estaria isento de ser multado em quase mil reais e de poder ficar até um ano sem dirigir, fora a repercussão do caso.

Situação diferente seria de um condutor que estivesse dirigindo com nível de álcool acima da ínfima quantidade a configurar a infração. Este sim teve temer o teste, e preferir não realizá-lo, pois ao se constatar o resultado positivo, além da infração de trânsito, pode se tipificar o crime de conduzir veículo sobre influência de álcool.

Não sei se a "preferência em não fazer" da figura pública foi um bom ou mau exemplo. Pode-se se considerar que foi um mau exemplo, um dos responsáveis por elaborar as leis de nosso país, se recusar, ou melhor, preferir, não se submeter ao teste do etilômetro, dando azo a  elucubrações várias.

Por outro lado, foi um bom exemplo de como as leis neste país são mal feitas.
Desde a elaboração do CTB que a questão álcool e direção não tem um tratamento correto.

Várias alterações já foram realizadas, mas, se conserta de um lado, estraga de outro.

Já já eu explico porquê.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Humanos

Preciso confessar que não simpatizo muito com a  humanidade. Gosto da minha família, dos meus amigos, da minha esposa (a ordem não é de preferência, apenas cronológica, ok?) , de pessoas que conheci em determinada ocasião e talvez nunca mais as veja. Mas não da humanidade como um todo, de nós como raça (Será que é racismo não gostar da humanidade?).

Filosoficamente, diria que a natureza errou com a humanidade. Não que a natureza seja dotada de atributos capazes de tomar decisões, e consequentemente falhar em algumas delas, mas em minha visão evolucionista, a humanidade foi um tiro no pé.

O planeta Terra há anos vinha existindo, com uma variedade de espécies, sempre tendendo ao equilíbrio. Fatores ambientais e causas exógenas determinaram mudanças, mas nada que provocasse grandes alterações no planeta. Um meteoritozinho ali, uma era glacial aqui, uns dinossauros a menos.

Os animais interagem com o meio ambiente e causam impacto na natureza. Os elefantes pisoteiam o solo e arrasam a vegetação, as formigas escavam o subsolo, os castores represam os rios. Tem uns animais que até soltam umas bufas e detonam com a camada de ozônio.

Nada semelhante a um cruzado no queixo. Tudo isso fazia só cosquinha na natureza. Até que apareceu o homem. Antes de qualquer coisa, vemos que nossos ancestrais, os macacos, não são necessariamente um exemplo de comportamento no reino animal (Pronto, vou se acusado de racista pelos macacos). Mas nada que causasse algum dano ao planeta.

E deu no que deu. Surgiu no mundo um ser completamente diferente dos demais. Como aprendi no curta “Ilha das Flores”, um ser dotado de polegar opositor e telencéfalo altamente desenvolvido. Essas duas características fizeram do homem um ser capaz de fazer muita coisa. Não adiantaria muita se tivesses nosso cérebro e o corpo de uma ameba (Vou ser processado até pelos protozoários...); ficaríamos pensando, pensando e?

Se tivéssemos o polegar opositor e não tivéssemos um cérebro desenvolvido... Bom, macacos já existem, só que com mais pelo.

A nossa capacidade de raciocinar, no plano da natureza, é uma aberração, algo completamente distorcido. É infinitamente superior a qualquer outra espécie de animal. Olha que os cérebros dos animais já são bastante poderosos, pois comandam ações complexas; voar por exemplo. Uma águia dando um rasante rente a um penhasco. É muita informação que precisa ser processada. Agora imagina outro animal que assiste isso na televisão e se impressiona!!!

O homem tem a capacidade de refletir sobre o mundo, sobre si mesmo, de questionar sobre sua existência, de abstrair e de inventar coisas muito além do básico necessário e instintivo a sua sobrevivência.

Nosso corpo é capaz de manipular ferramentas e máquinas, manusear equipamentos de precisão, falar e ouvir.

Pronto, tá feito o estrago. Por mais dotados de inteligência, não conseguimos nos desprender de nossos instintos e deixar de agir de acordo com a nossa natureza animal, mesmo que isso choque com nossos princípios “humanos”, tal como a moral. Pretendo abordar mais tarde esse tema, por enquanto voltemos nas consequências de nossos atos perante o mundo, independente das motivações.

A ação humana vem modificando drasticamente o planeta, podendo vir a se tornar impossível a vida, não só humana, mas de qualquer espécie.

O grande James Lovelock, que em seus livros (1), sustenta que já ultrapassamos o “ponto de não retorno”, que poderá levar à extinção da raça humana - mas Gaia, sem esse fator desequilibrante, voltará a seu estado de equilíbrio, permitindo a existência da vida, de uma forma diferente da atual. Eu não descarto a possibilidade de total desolação do planeta. Nem que seja através do domínio das máquinas sobre o mundo, funcionando autômatas e impedindo qualquer forma de vida. Muito ficção científica? Aguarde...

Pois bem, estamos arregaçando com o mundo. E parece que não estamos ligando muito. Estamos transformando a terra numa pilha de lixo. Esfolando a natureza até um ponto que ela não será mais capaz de prover as condições mínimas de sobrevivência do homem, seja pelo controle da temperatura, da radiação, da falta de água e alimento, de ar, seja por tudo isso.

Vou ali queimar um ozônio.

(1) Não deixe de ler “A vingança de Gaia”. Pesquise no google - james lovelock artigo a vingança de gaia - para ter uma idéia.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Em que eu acredito - Parte 01

Se tem algo que me impressiona é a capacidade do ser humano em crer. Acreditar no sobrenatural, no místico, no mágico, no divino. Em tudo que está além do mundo natural. Me impressiona, por exemplo, a religiosidade.

Não tenho dúvidas que a população brasileira é cristã porque fomos colonizados por portugueses, que eram cristãos (e são até hoje). Se tivéssemos sido colonizados por outros povos, poderíamos ser islâmicos ou budistas.

Claro que toda a conjuntura da época levou Portugal a colonizar o Brasil, e o catolicismo foi um fator de peso. Ou seja, o fato de Brasil ser predominantemente Católico é conseqüência disso, e não de algo divino, a não ser que consideremos que tudo ocorre por vontade de Deus.

Não nos tornamos judeus nem hindus. Se observarmos a expansão das religiões no mundo, veremos que todas se espalharam a partir um foco, de seu ponto de criação, geralmente o nascimento de alguma entidade.

Há muito mais de bairrista que de universal nas religiões existentes no mundo. Mas voltemos ao Brasil. País preponderantemente católico, com algumas pitadas de espiritismo, religiões africanas, judaísmo e por aí vai; digno de nota o expressivo aumento das religiões evangélicas, como alternativa ao catolicismo.

Pois bem: me impressiona, por exemplo, como as pessoas crêem em deus, em Jesus e na Bíblia. Pelo menos, não por agora, vou entrar no mérito das conseqüências de se acreditar ou não, mas me fixar apenas na crença.

Claro que cada pessoa elabora seu próprio conjunto de crenças, mas a maioria de nós, que acredita em deus, mesmo que considere não seguir nenhuma religião, tem como modelo o deus cristão.

Então comecemos pela Bíblia, que é a base da religião cristã. Confesso que já tentei, mas não consegui, lê-la por inteiro. E tenho certeza que a maioria das pessoas que se dizem cristãs, católicas, ou no mínimo como crentes em deus, também não.

Sei que muitos participam de grupo de estudos, sabem a Bíblia praticamente de cor, mas, mesmo não tendo tal autoridade, posso afirmar que este livro é uma compilação de textos, reunidos e chancelados como sagrado.

Não duvido de que existam passagens exemplares, educativas, mas, no contexto geral, ouso duvidar de sua validade.

Não obstante as diferentes traduções e versões, e mesmo as interpretações, é consenso, entre os que crêem, que a Bíblia foi escrita por pessoas inspiradas por deus, ou seja, é a própria palavra de deus.

Mas será que realmente acreditamos no que está lá escrito, ou, se lêssemos, acreditaríamos? As interpretações que aceitamos, não seriam uma forma de nos enganarmos?

Tenho a curiosidade de delimitar a área do mundo a qual a Bíblia faz referência. Acho que não é muito mais do que hoje se chama Oriente Médio. O cantinho do Mar Mediterrâneo, abragendo um pedaço da Europa, África e Ásia. Muito regional e datado para respaldar o alcance que obteve no em todo o mundo se considerarmos que foi escrita, ou inspirada, em alguém dotado dos poderes que lhe são atribuídos.

Seria justo que fosse citada, por exemplo, as Américas, tamanho o contingente de seguidores nessa porção do mundo. Mas ficamos completamente de fora. Nem uma notinha de rodapé.

Mesmo assim, continuamos considerando como base de nossa crença, não obstante as esdruxulidades e bizarrices contidas, a Bíblia, mesmo que nunca tenhamos nem mesmo a folheado.

Basta uma pesquisa na internet, associando o termo “bíblia” a alguma palavra – estranho, esquisito, bizarro, para verificar que, realmente, a bíblia é a melhor resposta para o ateísmo.

Não me considero muito inteligente, mas também não muito ignorante – me impressiona, sim, pessoas que considero dotadas de muito mais capacidade intelectual que eu, acreditarem no que está escrito na Bíblia, e, consequentemente, em deus. Me questiono – como pode essa pessoa, capaz disso e daquilo, ter um amigo imaginário chamado Deus???

Imagino que a crença em um ser superior é algo inerente ao ser humano – tanto que esta característica é encontrada em todas as civilizações. E sempre ligado aos fatos que não têm explicação lógica – Nos povos primitivos, o deus morava no vulcão, ou controlava as condições climáticas – daí a necessidade de agradá-los, para evitar um erupção ou trazer chuvas.

Com o passar dos tempos, e com a crescente sistematização das crenças – o que chamamos religião – o maior mistério que um ser humano pode ter – virou o fundamento para atrair as pessoas – o que acontece depois que eu morrer.

Realmente, não tem como escapar dessa armadilha: como vou recusar a vida eterna? Eu não quero que depois que eu morra acabe tudo, não sobre nada. Ou pior: que sobre, o inferno. Logo, eu acredito em deus.

Continua...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cuide de sua Saúde!

Acabei de lançar um novo selo de certificação, com o intuito de garantir o consumo isento de produtos químicos:

*************************
* Mulher 100% Orgânica *
*************************

Imagina a propaganda “Coma somente mulheres 100% Orgânicas. Evite artifícios que dão uma falsa impressão da realidade”.

O negócio é sério. É implante de silicone em tudo quanto é lugar: mama, glúteo, queixo, panturrilha. Botox, lifting, lipoescultura e por aí vai.

Claro que se preocupar com a aparência é normal, buscar melhorá-la é normal. Mas tudo tem limites. O que estamos vivenciando é um busca por algo além da perfeição.

E de tudo o que mais me intriga são os implantes, ou, tecnicamente, “inclusões de próteses de silicone”.

Será que é bom carregar uma bolsa de silicone na bunda? Motivo de orgulho? Se submeter a uma cirurgia para “incluir uma prótese”, sem nenhuma finalidade funcional, mas tão somente para atrair olhares??? Bom, não sou apto a dizer se proporciona melhor desempenho em algo mas... deixa pra lá.

Há casos e casos. Correções estéticas, algo visualmente incômodo é uma coisa, tal como um dente faltando, ou uma reparação de seio, seja para reconstrução por câncer, é uma coisa.

Dizem que aumentam a auto-estima, a confiança, que após a cirurgia até a vida profissional mudou... Vai entender. Pra mim o problema é outro, agravado por essa pressão estética.

O que estamos presenciando, com ataques da mídia, são mulheres já lindas, se submetendo a procedimentos de “overização” de medidas.

Tansformam-se em X-Womans, com peitos e bundas inflados, desafiadores da gravidade, que chamam a atenção mais pelo estapafurdismo que por qualquer outra coisa, tamanha dissociação com a “realidade”.

É Lamentável, mas na medida em que cirurgiões plásticos viram astros da tv, e as Super-Mulheres são o padrão de beleza, fica difícil evitar a busca insana por estas práticas.

Insisto: nada contra procurar melhorar a aparência e as mulheres tem muitos artifícios para isso - eu costumo brincar que depois que minha esposa chega em casa, tira a maquiagem, o sutiã, a meia, etc, ocorre o processo de “mocreização” (calma! É só brincadeira, te acho linda de qualquer jeito!).

Nós homens gostamos e nos orgulhamos de ter ao lado uma mulher arrumada, cheirosa, gostosa. O problema é o exagero. O benefício a troco de nada.

Nem uma ginastiquinha, uma corrida, nada. É tudo no fast food estético.

Por isso, mulheres, atraiam nossa atenção com o novo selo: “Mulher 100% Orgânica!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Anel Rodoviário de BH (Parte01): Se você não conhece, nem queira

Acho que o Anel Rodoviário de Belo Horizonte é famoso no Brasil inteiro. Afinal, não conheço outra via dentro de uma cidade que frequentemente é notícia nos jornais nacionais, tal como o Anel, com seus acidentes que produzem inúmeras vítimas, ocupantes de veículos que foram esmagados por alguma carreta que "perdeu os freios".

Também, não é por menos: a situação aqui é algo totalmente absurda, algo inconcebível.

Belo Horizonte é uma cidade das mais importantes do Brasil. É a capital de Minas Gerais. Devido a sua localização, entroncamento de diversas rodovias, rota de deslocamento entro o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste.

Em Belo Horizonte convergem os caminhos para o Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Nordeste, Espírito Santo. E todas essas rodovias se encontram no Anel Rodoviário. Todos os caminhões, carretas, bi-trens, treminhões, para se deslocar de uma rodovia à outra, têm que passar pelo centro de Belo Horizonte.

Não ??? Pois verifique o mapa. Se algum dia o Anel era realmente um anel, circundando a cidade, isso já ficou para trás a muitos anos. Observe o mapa da grande BH. O Anel Rodoviário praticamente divide duas metades de uma grande mancha urbana.

O Anel Rodoviário de Belo Horizonte é utilizado para o deslocamento entre as regiões da cidade - para os moradores irem ao trabalho e voltar às suas casas. Jamais poderia estar recebendo o tráfego de regiões do país - veículos de carga que estão se deslocando do sul ao norte, do leste ao oeste.

Para estes, muito antes de Belo Horizonte, já deveria haver outra via de ligação entre as diversas rodovias. Já existe projeto nesse sentido, mas que, receio, não passa de projeto. E se for o que se pode encontrar na internet, sob o nome de "Rodoanel", tristemente se constata que não há ligação entre as saídas para o Rio e São Paulo, ou seja, na parte mais crítica do Anel, entre as BRs 040 e 381, onde sequencialmente ocorrem os infames acidentes "perdi o freio", os veículos de carga continuariam a passar pelo Anel.

Depois da última tragédia, providências foram tomadas. Falou-se em instalar, nesse trecho mais crítico, um radar a cada cinquenta metros! Nos vinte e cinco quilômetros do Anel não devem existir 10 radares - querem botar 100 radares em cinco quilômetros de rodovia!

E mais, estudam restringir o trânsito de veículos de carga no Anel, proibindo-o nos horários de pico. É capaz da fila de caminhões aguardando a hora de usar o anel chegue até na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro!

É claro que o anel necessita de um sistema de controle de velocidade, de fiscalização massiva, de uma reforma, revitalização, seja lá o que for. Mas nenhuma medida vai resolver o problema, enquanto o Anel for essa aberração.

continua...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As drogas devem mesmo ser proibidas? Parte 01 (ou "Feijão: Do preto ou do branco?")

Eu acho que não. Por quê? Porque não acredito que são penais as leis capazes de regular a questão, e sim as leis de mercado.

O tráfico de drogas nada mais é que a comercialização de alguma coisa, alguma coisa esta que tem a comercialização proibida. Fora esse detalhe, em nada se diferencia de uma compra e venda qualquer, muito mais sujeita à lei da oferta e da procura que a qualquer outra.

A lei que trata desse assunto proíbe diversas condutas, tais como adquirir, guardar, fabricar, plantar, pensar – epa! Pensar pode. Mas proíbe o resto todo em relação a substâncias entorpecentes, conforme um lista elaborada sei lá por quem.

Imagine, por exemplo, que a partir de hoje o feijão entrasse na lista das substâncias proibidas – eu sou viciado em feijão.

A partir de agora, plantar, transportar, vender, comprar, guardar - comer feijão - é crime. Não haveria mais feijão para vender no supermercado. Os plantadores de feijão talvez fossem cultivar arroz, hortaliças, etc.

Mas as pessoas continuariam na fissura de bater um tropeirão. Rapidinho teria gente sonhando com uma banheira cheia de tutu, com torresmos boiando para pular dentro.

E ninguém consegue arrumar feijão. Uns estão comendo fava, lentilha, mas querendo mesmo feijão. E dispostos a pagar o que fosse num saquinho de feijão.

Até quem nunca deu bola para feijão agora esta com vontade de experimentar... um caldinho pelo menos. Mesmo proibido, todo mundo quer por a panela de pressão no fogo.

Com a diminuição da oferta, ocorreu o brutal aumento do preço.

Frente a esse cenário, e agora isento de impostos, logo, “alguns” vislumbraram a possibilidade de auferir ganhos com a ilícita atividade de comercializar feijão.

E começaram a importar feijão, plantar feijão em terras de ninguém e a trazer o feijão para os centros consumidores.

O Estado, percebendo que se avoluma o tráfico, aumenta a repressão. Cria uma força tarefa, o GCJ – Grupo de Combate ao Feijão.

E quanto mais reprime, mais dificulta a comercialização, mais contribui para a elevação do preço do kilo do feijão.

E nesse círculo vicioso, mais pessoas dispostas a oferecer o produto, a qualquer custo.

A cada traficante preso, outros dois mais truculentos ocupam a chamada Boca de Feijão.

Em todos os lugares proliferam-se quadrilhas fortemente armadas, que disputam o território umas com as outras e... bom, voltemos a realidade, porque o resto da história todo mundo já conhece. Mãe, faz feijoada?

Claro, feijão é uma coisa, drogas são outra. Não vou entrar no mérito sobre os danos provocados pelas drogas no indivíduo, se se trata de questão de saúde pública, etc. Pelo menos não por agora.

Porque uma coisa é certa: enquanto tiver gente querendo consumir, vai ter gente querendo fornecer. O combate ao tráfico é uma luta inglória. Será que vale a pena mesmo insistir? Os danos colaterais causados pela combate ao tráfico de drogas não serão maiores que os causados pelo acréscimo no consumo, se estas fossem liberadas? Será que o consumo aumentaria mesmo nesse caso?

Continua...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Leilão de Um Centavo: Quem perde mais?

Quando você vê um Celular Nokia 5233 vendido por R$ 7,96 ==> 98,01% abaixo do valor de mercado (R$ 399,00), ou um Nintendo Wii por R$ 14,12, ==> 98,43% abaixo do valor de mercado (R$ 899,00), você pensa: Opa! Também quero!

Os sites funcionam com um "leilão", onde os usuários dão lances. A diferença entre este "leilão" e um leilão, digamos... “convencional”, como até então conhecido, é que, neste, você precisa PAGAR para dar lances.

Isso mesmo. Pagar simplesmente para poder dar um lance. A cada lance.

Antecipadamente, o participante deve comprar os créditos que lhe dão direito a efetuar lances. A cada lance, uma moeda (a menos) no (seu) cofrinho.

Já tinha ouvido falar em leilões que o participante precisa caucionar um determinado valor para garantia das eventuais arrematações; mas, que tenha de pagar a cada lance, nunca tinha visto.

Cada lance custa no máximo um real. 100 lances, por exemplo, são anunciados por noventa reais, ou você adquire 55 lances por cinquenta reais.

A cada novo lance que alguém efetua (que custa um real), UM CENTAVO é adicionado no preço do produto, e a contagem regressiva para encerramento do leilão volta ao seu estágio inicial, possibilitando que outros lances sejam efetuados. Ou seja, enquanto tiver alguém clicando, o "leilão" não termina.

O arrematante é quem der o último lance antes do encerramento da contagem regressiva.

Digamos que cada lance custe um real. Cada vez que você clica em “lance!”, (e gasta um real), o preço aumenta UM CENTAVO. É, você GASTA um real para aumentar o valor em UM CENTAVO!

Logo, no “leilão” do Wii, vendido por R$ 14,12, foram efetuados 1412 lances (14,12 x 0,01). Se considerarmos cada lance adquirido por R$ 1,00, este item arrecadou R$ 1.412,00. Suficiente para cobrir o “valor de mercado”.

Ou seja, milagre não é. Mas leilão... Será? No leilão “antiquado”, a avaliação para dar um lance é “posso arcar com esse valor neste bem?”. Agora, “devo gastar mais para continuar com a chance de arrematar esse bem?”.

Porque não importa quantos lances você deu (e conseqüentemente quanto você gastou), “arremata o lote” quem der o último lance, mesmo que tenha efetuado somente este!

Poderíamos considerar esses sites como um tipo de compra coletiva, com uma peculiaridade que o diferencia: todos pagam, mas só um leva.

Diversão garantida para quem gosta de bingos e congêneres.
Posto isso... Bons lances! Eu continuo pensando: Opa! Também quero! (um site desses...)