terça-feira, 14 de junho de 2011

Vamos flexionar o "mais" também


Mais uma vez vou ser obrigado a discordar da maioria e afirmar que não achei as idéias do tal livro do MEC assim tão estapafúrdias. Nem li o livro, mas, pelo que li e ouvi, achei as idéias bem coerentes.


Antes de mais nada, bom frisar que é normal a reação observada, de rejeição às idéias contidas no livro. Geralmente somos contra o que é diferente do que estamos acostumados. Soa mal aos nossos ouvidos quando outra pessoa faz uso da língua de forma diversa à nossa.

Mas a forma como falamos também pode soar mal para outras pessoas, talvez mais cultas, talvez mais incultas, talvez apenas de outra região ou época.

 Confesso que pratico preconceito linguístico quando escuto algo, não digo nem errado, mas diferente, do que estou acostumado. Até mesmo uma acentuação diferente, ou um sotaque, já é suficiente para desencadear repugnante sentimento.

Especificamente quanto à polêmica do livro, me parece que o problema é com a concordância... nominal? numeral? Nem sei, mas vamos dizer que seja a flexão das palavras para concordar entre si em número, ou seja, a utilização do plural.

Vamos aos exemplos do livro:

Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados -> forma culta - terceira pessoa do plural (é isso mesmo)?
Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado -> forma alternativa.
O livro ilustrado mais interessante está emprestado -> frase no singular, por minha conta.

Então vejamos: para passar a frase do singular para o plural, foram flexionados: o - os, livro-livros, ilustrado - ilustrados, interessante - interessantes, está - estão, emprestado - emprestados.

Seis palavras, de sete ao todo. Precisava flexionar a frase inteira??? Apenas o "mais" escapou (ao contrário do seu antônimo, que costuma ser agressivamente flexionado, não por número, mas por gênero: coitado do menos, que vira "menas": menos homens, menas mulheres - essa é dose.

Mas voltando ao assunto, precisava flexionar a frase inteira??? Prá quê??? Essa tal "riqueza" do português, prá mim, tem outro nome. Na versão alternativa, apenas duas palavras foram flexionadas. No mínimo, forma mais simples, para não dizer prática, semelhante a forma adotada pelo idioma mais difundido no mundo. 

Vamos pedir ajuda ao translate para verificar como a coisa funciona no inglês:
"O livro ilustrado mais interessante está emprestado"
virou
"The most interesting illustrated book is borrowed".
"Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados"
virou
"The most interesting illustrated books are borrowed".

Ou se, flexionou-se apenas DUAS palavras - o verbo e o substantivo, que no caso atua como sujeito. Nada de flexionar artigo, adjetivo, advérbio

Seria como se disséssemos "O livros ilustrado mais interessante estão emprestado".

E nenhum inglês acha estranho ser desta forma, por sinal, muito mais simples que no português. Isso sem falar nas infinitas flexões verbais, flexões de gênero, bobagens que, no fundo, só servem para complicar a língua ou... proporcionar preconceito e discriminação.

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