Nesse tempo de Semana Santa, as imagens de fervor religioso ganham mais espaço na mídia, e com ele meu espanto nas demonstrações de fé das pessoas.
No geral, a religião, a crença de deus, é uma forma de buscar amparo, proteção, ajuda para superar dificuldades. Ter em quem se fiar, independente das dificuldades.
É ter a quem agradecer ao se conquistar algo, como se as ações nossas ou de terceiros não fossem suficientes para alcançar o resultado.
Cada pessoa tem seu deus, e uma relação pessoal com ele, muitas vezes adicionando elementos incompatíveis com a própria essência da religião.
Muitas vezes, nossas orações têm objetivos excludentes ao de outras pessoas, ao passo que, quando pedimos ajuda a deus, queremos que ele prejudique outras pessoas em nosso favor.
O exemplo extremo de tal constatação é o agradecimento a deus pela vitória em uma partida de futebol, ou mesmo por fazer um simples gol.
“Graças a Deus conseguimos virar o jogo...”; “Deus me abençoou com o gol...”, quantas vezes escutamos na mídia estas demonstrações de fé. Não seria tal ilação no mínimo egoísta?
Quem pensa dessa forma é realmente imbuído dos sentimentos pregados pela religião? Afinal, por que achar que um ser superior iria favorecer alguém, consequentemente prejudicando outros? Seria isso justo? Pois se a partida foi ganha, graças a deus, pode ser que o time perdedor até estivesse mais preparado, mas perdeu graças a deus que ajudou o outro.
Rezamos pedindo para passar no vestibular, para arranjar emprego. Será que alguém quem estudou mais, ou está mais preparado, seria prejudicado por deus, só porque não foi suficientemente adulado?
Passamos por cirurgias complicadíssimas, diversas pessoas envolvidas para anestesiar, estabilizar, cortar, costurar e agradecemos a deus. Será que sem a reza deus iria fazer alguém cometer um erro?
E todo o esforço da equipe médica foi em vão, já que tudo correu bem graças a deus? Não seria melhor se deus não tivesse permitido nem que a cirurgia fosse necessária?
O mesmo ocorre nas tragédias. “agradeço a deus por estar vivo” - por minha conta agora - “obrigado por ter desabado aquele morro em cima de mim, me quebrado todo, me deixado ficar no hospital durante meses sofrendo dores terríveis, matado todo o resto da minha família”.
Ou “Graças a deus a tragédia não foi maior”. Pô, porque graças a deus não houve tragédia?
Sempre atribuímos a Deus a parte boa do fato, nem que a parte boa seja a situação não ser pior. Como que as pessoas conseguem concluir que Deus contribuiu para ajudar e desprezam a causa do fato? Quem causou a situação que deus teve que intervir? Ele próprio ou algum de rival seu? Ou aí entra o acaso? E deus não tem controle sobre o acaso, só consegue minorar o estrago depois que já está acontecendo, tipo os bombeiros?
Nem os fieis mais fervorosos têm essa proteção divina que vejo nos adesivos assim tão eficiente. É teto de igreja que desaba, é ônibus de romeiro que capota, credo!
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