Se tem algo que me impressiona é a capacidade do ser humano em crer. Acreditar no sobrenatural, no místico, no mágico, no divino. Em tudo que está além do mundo natural. Me impressiona, por exemplo, a religiosidade.
Não tenho dúvidas que a população brasileira é cristã porque fomos colonizados por portugueses, que eram cristãos (e são até hoje). Se tivéssemos sido colonizados por outros povos, poderíamos ser islâmicos ou budistas.
Claro que toda a conjuntura da época levou Portugal a colonizar o Brasil, e o catolicismo foi um fator de peso. Ou seja, o fato de Brasil ser predominantemente Católico é conseqüência disso, e não de algo divino, a não ser que consideremos que tudo ocorre por vontade de Deus.
Não nos tornamos judeus nem hindus. Se observarmos a expansão das religiões no mundo, veremos que todas se espalharam a partir um foco, de seu ponto de criação, geralmente o nascimento de alguma entidade.
Há muito mais de bairrista que de universal nas religiões existentes no mundo. Mas voltemos ao Brasil. País preponderantemente católico, com algumas pitadas de espiritismo, religiões africanas, judaísmo e por aí vai; digno de nota o expressivo aumento das religiões evangélicas, como alternativa ao catolicismo.
Pois bem: me impressiona, por exemplo, como as pessoas crêem em deus, em Jesus e na Bíblia. Pelo menos, não por agora, vou entrar no mérito das conseqüências de se acreditar ou não, mas me fixar apenas na crença.
Claro que cada pessoa elabora seu próprio conjunto de crenças, mas a maioria de nós, que acredita em deus, mesmo que considere não seguir nenhuma religião, tem como modelo o deus cristão.
Então comecemos pela Bíblia, que é a base da religião cristã. Confesso que já tentei, mas não consegui, lê-la por inteiro. E tenho certeza que a maioria das pessoas que se dizem cristãs, católicas, ou no mínimo como crentes em deus, também não.
Sei que muitos participam de grupo de estudos, sabem a Bíblia praticamente de cor, mas, mesmo não tendo tal autoridade, posso afirmar que este livro é uma compilação de textos, reunidos e chancelados como sagrado.
Não duvido de que existam passagens exemplares, educativas, mas, no contexto geral, ouso duvidar de sua validade.
Não obstante as diferentes traduções e versões, e mesmo as interpretações, é consenso, entre os que crêem, que a Bíblia foi escrita por pessoas inspiradas por deus, ou seja, é a própria palavra de deus.
Mas será que realmente acreditamos no que está lá escrito, ou, se lêssemos, acreditaríamos? As interpretações que aceitamos, não seriam uma forma de nos enganarmos?
Tenho a curiosidade de delimitar a área do mundo a qual a Bíblia faz referência. Acho que não é muito mais do que hoje se chama Oriente Médio. O cantinho do Mar Mediterrâneo, abragendo um pedaço da Europa, África e Ásia. Muito regional e datado para respaldar o alcance que obteve no em todo o mundo se considerarmos que foi escrita, ou inspirada, em alguém dotado dos poderes que lhe são atribuídos.
Seria justo que fosse citada, por exemplo, as Américas, tamanho o contingente de seguidores nessa porção do mundo. Mas ficamos completamente de fora. Nem uma notinha de rodapé.
Mesmo assim, continuamos considerando como base de nossa crença, não obstante as esdruxulidades e bizarrices contidas, a Bíblia, mesmo que nunca tenhamos nem mesmo a folheado.
Basta uma pesquisa na internet, associando o termo “bíblia” a alguma palavra – estranho, esquisito, bizarro, para verificar que, realmente, a bíblia é a melhor resposta para o ateísmo.
Não me considero muito inteligente, mas também não muito ignorante – me impressiona, sim, pessoas que considero dotadas de muito mais capacidade intelectual que eu, acreditarem no que está escrito na Bíblia, e, consequentemente, em deus. Me questiono – como pode essa pessoa, capaz disso e daquilo, ter um amigo imaginário chamado Deus???
Imagino que a crença em um ser superior é algo inerente ao ser humano – tanto que esta característica é encontrada em todas as civilizações. E sempre ligado aos fatos que não têm explicação lógica – Nos povos primitivos, o deus morava no vulcão, ou controlava as condições climáticas – daí a necessidade de agradá-los, para evitar um erupção ou trazer chuvas.
Com o passar dos tempos, e com a crescente sistematização das crenças – o que chamamos religião – o maior mistério que um ser humano pode ter – virou o fundamento para atrair as pessoas – o que acontece depois que eu morrer.
Realmente, não tem como escapar dessa armadilha: como vou recusar a vida eterna? Eu não quero que depois que eu morra acabe tudo, não sobre nada. Ou pior: que sobre, o inferno. Logo, eu acredito em deus.
Continua...